Como você começou a produzir conteúdo?

Na minha vida eu sempre quis tentar ser "alguém", sempre tive um pézinho em música, mas toda minha vida sempre fui muito tímido pra tentar começar e até pra falar pra alguém sobre isso.
 
Como música, na minha cabeça, tava fora de questão fazer, achei que um meio bom de produzir alguma coisa fosse criando vídeo pro YouTube, sempre fui muito curioso e ia fuçando as coisas, até que teve uma uma hora que descobri que sabia editar vídeo, e modéstia à parte, edito muito bem. Logo comecei e era um sentimento ótimo saber que era eu que produzia aquilo e até dividir esses momentos com amigos.

Lembro de uma época, em que ainda tava na escola, tinha um grupinho, eu e uns amigos, que uns conhecem por "L.E.C", a gente se divertia tanto gravando ou até só planejando coisa, apesar de também ter muitas brigas e desavenças, aquilo ali me fez refletir sobre muitas coisas que tava me "escondendo" de fazer por pura timidez.

Logo depois que o grupo se encerrou, cada um começou a fazer suas próprias coisas, me senti muito solitário e perdido. Fiquei num ambiente novo, com pessoas novas, muitas dúvidas, inseguranças e por muito tempo parecia que as coisas tinham parado de fazer sentido pra mim. Foi quando me deu uma virada de chave e tive a ideia de produzir meu primeiro EP, não tinha coragem de começar a cantar, mas já tinha muito o que dizer, mesmo que por instrumentais, o que tava passando naquele momento de transição da minha vida.

 De onde veio o nome ''Cósmyco''?

A minha vida as vezes pode parecer muito monótona, chata, cansativa, esse nome me veio por tudo que ele pode representar, uma persona, incrível, profunda que conseguiria ser tudo e ter tudo que eu, Lucas, não consigo ser ou ter, é um nome abrangente, o universo é finito mas ainda continua em expansão. O Cósmyco, é isso, todo mundo tem seu próprio universo dentro de si, criando o Cósmyco, consigo ser mais destemido e menos tímido pra com o mundo e até pra comigo mesmo.

E o "y" no lugar do "i" é por que Lady Gaga não tem "i", haha.

Qual você diria que é seu maior desafio atual no que você faz?

O maior desafio é entender o sistema, porque quando você decide trabalhar com arte, não chega ninguém pela sua mão falando "olha, pra você chegar nesse lugar, você precisa fazer isso, isso e isso" ou então "pra você, você entender as coisas básicas sobre uma carreira, você precisa entender sobre isso, isso e isso". Não tem ninguém no começo que te ajude, não é como, digamos, uma faculdade, falando por mim, tenho uma carreira com música a pouco mais de 1 ano, que é quando considerei o início de fato da minha carreira, e recentemente que fui começar a entender de verdade questões como direito autoral. Então é algo muito complexo na maioria das vezes.

Além desse problema interno, tem também questões como vez ou outra aparecer gente falando besteira do seu trabalho sem nem ao menos ouvir, gente que acha que só não lança música porque é preguiçoso ou incapaz. Artista é um bicho ansioso, então tem uma cobrança de produção e ansiedade pra lançar tal trabalho no menor tempo possível mas nem sempre dá.

Quando lancei "Saudade", uma música minha, eu já tinha todo um projeto inteiro na cabeça, até hoje tenho músicas prontas desse projeto, seria um EP com 5 faixas e por acasos e contratempos acabou não acontecendo. Aquilo ali foi uma frustração enorme pra mim, não só por um trabalho descartado que levou meses pra ficar pronto, mas também como pro meu intimo que me fez sentir incapaz de fazer aquilo que escolhi fazer. 

A vida de um artista já é muito difícil, agora imagina uma vida de um artista pequeno, LGBTQIA+, da região Norte do Brasil e que por muitas vezes é ignorado em muitas plataformas e portais de noticia.

Qual foi sua maior conquista até hoje?

Minha maior conquista foi e tá sendo me provar pra mim mesmo, na minha cabeça era imaginável fazer o que faço hoje, por mais que exista muitos problemas, consegui de forma ou outra encontrar pessoas muito boas no caminho, ainda é meio estranho pensar que provavelmente quando essa entrevista sair, vai está em algum lugar sendo noticiado por fãs meu. Pra quem achou que ia passar a vida fazendo música escondido e cantando baixinho pra ninguém ouvir, esse já é um dos meus maiores presente.

Como você encara o cenário de artistas atual?

Olha, isso pra mim é um tópico bem puxado de se falar, posso gerar muita discordância e talvez ser mal interpretado, mas atualmente o que eu vejo na maior parte das vezes são trabalhos de muita preguiça, existem sim trabalhos ótimos, excelentes e também que dependem muito do conceito da música ou da era do artista, porém tem coisas que dá pra saber quando foi uma coisa bem montada por ser uma coisa que o artista queria fazer ou uma coisa que fez só pra ver se hitava.

Uma das coisas que mais me preocupo em meu trabalho são os significados e cuidados estéticos. Aquilo ali vai ser pra mim e minha carreira, não tem como apagar quando quiser, vai ficar marcado.

Músicas são como fotografias da sua história, não que tudo tenha que ser o ápice do artístico e conceitos inovadores, de novo, depende muito da proposta e conceito da música, mas me dá um sentimento de vazio, principalmente de artistas pequenos que, entre muitas aspas, "tem liberdade de errar" mas acabam se prendendo exclusivamente a números, plays, views e esquecem que o principal sobre trabalhar música é a música, o resto é resultado.

Como é ser artista pra você?

Ser artista pra mim é bem desafiador em questões públicas mas bem prático nas questões profissionais, muita gente tem a falsa impressão de que ser artista, ser cantor é só lançar uma música hoje e acabou, mas existe um trabalho ENORME por trás, principalmente pra quem, como eu, trabalha nisso por conta própria.

Falando do meu processo criativo, a maioria das minhas músicas começo com um verso solto que vem na cabeça ou uma melodia que surge, particularmente, produção de música não é algo que sei fazer ainda, aos poucos fui e tô tentando aprender e me familiarizar, mas pra mim ainda é um desafio algumas coisas técnicas demais, então já é um processo longo pra mim.

só o "básico" que é a parte de composição, produção, gravação por si só já é um processo que demanda um tempo considerável, ainda tem questões como conceito, estética, photoshoot, pitching, release, estratégias pra promover a música, criar conteúdo em cima da música, divulgar pré save e mais 500 milhões de outras coisas, e isso tudo antes da música sair, depois que a música sai que a maioria pensa que acabou ali, tem mais estratégias e coisas a se pensar pra manter a música viva por pelo menos 1 mês pra gerar alguma coisa.

Quais 3 dicas você daria pra você mesmo logo quando você começou?

A primeira é: Se leve a sério, a primeira coisa sobre fazer uma carreira na música é saber que música não é brincadeira e levar a coisa sério, aquilo ali vai ficar marcado na sua história, independente de ter 10 plays ou 10 milhões, se você quer isso como hobbie, ok, você pode fazer quando tiver vontade, mas se é aquilo que você quer pra sua vida, estuda, entende música, tenta sempre melhorar, foque os esforços em você pra que mesmo que você lance uma música de 6 em 6 meses, você olhe e pense com orgulho do seu trabalho. 

A segunda coisa: É não se compare com ninguém, absolutamente ninguém, por muito tempo isso foi uma coisa que até me fez mal, via tal pessoa batendo não sei quantos mil plays, outra pessoa conseguindo lançar música com letras ou produção melhores, gente chegando em espaços que eu não cheguei. Isso mexe com o ego mas ego a parte, aquela pessoa também tem a história dela, também ralou muito pra tá nos lugares que tá, umas não mas enfim hahaha, tem gente que já me comparei que tava produzindo música a anos e eu no meu primeiro lançamento pensando "eu que devia ter aqueles números". Mas em resumo, não se compare, não compare o seu começo com o meio de ninguém.

A terceira é: Seja mais cara de pau hahaha, ser artista pequeno, ainda mais no Brasil que é gigante, pode ser muito duro em várias questões, mas as vezes a gente tem que saber aproveitar algumas coisas, obviamente nem tudo vai dar pra tirar aproveito ou risadas, mas se é isso que você quer, se jogue de cabeça nas coisas, pode passar uma vergonha ou outra? Sim, mas converse com outros artistas, escute novas coisas, produza e componha as coisas do seu modo, ter uma base de como quer fazer é uma coisa, mas copiar um trabalho já existente é outra, seja você mesmo em todos os lugares, não queira vender um personagem que você não é. Por exemplo, eu quando comecei, eu era mais novo e muito idiota, sempre tentei me projetar como artista, ser misterioso, parecer ser alguém sério e inacessível, mas ai isso tudo não se manteve nem por 1 ano porque meus amigos e pessoas que já me conheciam sabiam que eu não era assim.

Cite 3 inspirações para você continuar o que faz

Minhas 3 inspirações de modo geral seriam meus artistas preferidos, que seriam aqueles que sempre vou levar no meu coração, que seriam Lady Gaga, Joelma e agora Kika Boom.

Mas queria citar pessoas importantes pessoalmente pra mim, talvez de mais de 3 pessoas haha, mas que também me servem de muita inspiração que seriam meus pais, por tudo que já fizeram a minha vida toda, que sempre fizeram de tudo pra proporcionar o melhor a mim.

Meus amigos, que por mais que do nada eu suma sempre me abraçam quando preciso, queria citar em especial 2 que todo mundo que me acompanha já conhecem, que é o Hugo Moreira e a Clara Alves, que sempre tão ali por mim e eu por eles.

Por último ao meu público, que por mais que as vezes possa decepcionar eles de algum jeito, estranhamente eles estão lá por mim, torcendo, conversando e me fazendo sentir alguém especial de verdade.

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Considerações finais

Gostaríamos de agradecer ao Cósmyco pela participação.
O projeto Revista CPBR que trás entrevistas exclusivas semanalmente com criadores de conteúdo e artistas.  

• Matéria por: Yasmin Soares 
• Edição por: Júlia Soares
• Revisão por: Gustavo Martins

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